AS TENTATIVAS DE FUGA PARA O ESPAÇO SIDERAL

As tentativas de fuga para o espaço sideral

A inversão dos vetores ônticos, portanto psíquicos, realizada no momento da encarnação, no de precipitação do ser na existência, segundo a Teoria das Filosofias da Existência, forma típica do pensamento contemporâneo, ao invés de avançar na direção do alvo natural da morte, para superá-la, desviou-se para vícios da rotina. O Ser inexorável da estrutura vital e contínua da história, mestra dos homens, como queria Cícero.
As duas conflagrações mundiais, de 1914 e 1939, trouxeram à tona, na atualidade mundial, a ferocidade aparentemente soterrada e as ambições desmedidas das tribos germânicas que, no passado, esmagaram o predomínio romano da Europa. Os romanos, por sua vez, tiveram de pagar, por assim dizer, as atrocidades cometidas contra os celtas, o único povo filósofo do mundo, segundo Aristóteles. A sabedoria druídica, da religião pura dos celtas, teve o seu herói em Vercingetóridix, o grande e generoso chefe celta, que César arrastou pelas ruas de Roma, cego e humilhado, como um bárbaro sem entranhas. O druidismo, religião mediúnica e poética dos sacerdotes poetas e cantores, fazia parte da preparação do advento do Cristianismo.
Kardec explicaria mais tarde, em comunicação mediúnica a Léon Denis (que Conan Doyle chama de o Druída de Lorena), a importância dos bardos celtas e o sentido profundo das tríades druídicas nas Gálias, para a libertação humana, imantação telúrica que invertera os vetores do ser em sua projeção na existência.
O plano divino foi frustrado pelo arbítrio dos homens. A hierarquia espiritual foi sacrificada em favor das necessidades da experiência livre do homem em seu processo evolutivo. As ambições nazi-fascistas de Hitler e Mussolini constituíram a prova do círculo na repetição das experiências frustradas. O homem teve de voltar à barbárie, rompendo o frágil equilíbrio da Belle Epoque européia que mergulhou no caos da evolução
material, no horror de suas conquistas tecnológicas. Milhares de criaturas sensíveis, como no caso doloroso de Stefan Zweig, tentaram escapar do caos pelo suicídio. Os indivíduos, ligados naturalmente às suas comunidades intelectuais, não dispunham de meios para escapar à pressão das forças cármicas desencadeadas no plano social.
Em seu livro O Mundo que eu vi, Zweig estabeleceu o contraste da Viena de seu tempo, paraíso musical de harmonia e beleza, centro intelectual e artístico da Áustria fervilhante de idéias elevadas com a avalanche de brutalidades, sujeira moral e  ferocidade selvagem que se despencou sobre a cidade, o país e o mundo. De onde vinha toda essa miséria humana, esse retrocesso histórico, arrasador, senão das camadas temporais subterrâneas, onde os monstros do passado despertavam de sua catalepsia providencial? Ainda hoje podemos ver em Viena uma imagem de bronze de Nossa Senhora, aparente objeto de culto religioso, mas provido por dentro de um sistema de espadas de aço. Os infelizes que eram ali encerrados morriam trespassados pelas
espadas, ao fechar da imagem. As espadas simbólicas do martírio de Maria de Nazaré, ante a crucificação do filho, transformavam-se em espadas cruéis de morte sangrenta, e isso ainda nos tempos imperiais da grandeza austríaca. O sadismo infernal dessa forma de execução prova o estado real da evolução moral da Europa, que escondia suas garras de fera sob o manto piedoso da Virgem. Era inevitável a eclosão do Novo Terror, mil vezes pior que o da Revolução Francesa, na proporção em que a frágil camada de civilização fosse sendo
rompida, ao despertar dos monstros subterrâneos. Esse rompimento verificou-se em escala mundial, como vimos em nossa contemporaneidade, pois tudo se encadeia no universo.
A Tecnologia da guerra ameaçou o mundo inteiro. Das bombas voadoras de Hitler sairiam mais tarde, como borboletas cósmicas do futuro, os foguetes da pesquisa espacial que romperam as barreiras da gravidade terrena. Premida pela pressão do ambiente caótico do mundo, a consciência humana gerou a angústia existencial, com o apelo desesperado aos tóxicos, o aumento da criminalidade mundial, os surtos de
criminalidade infantil e o anseio de fuga do planeta, nas tentativas de fuga pelo espaço sideral. A Astronáutica, nascida das entranhas da tecnologia de matança, transformou-se em esperança, embora remota, de libertação cósmica do homem.
Fugir da Terra infestada de monstros do passado e devastada, poluída, aviltada pela raça humana, esse é o objetivo do homem contemporâneo. Mas como as barreiras das distâncias cósmicas parecem invencíveis, surgem os projetos líricos de construção de cidades cósmicas no espaço sideral, nos pontos neutros de
gravidade entre a Terra e a Lua, bem como os projetos de revitalização da própria Lua, com arborização artificial para restabelecimento de sua atmosfera. Delírios de uma fase histórica de pesadelo, que não passará com essas invenções, mas apenas com o processo purgatorial em marcha dolorosa.
Os desgastes da natureza forçam o homem a despertar para as exigências da sua própria transformação, no desenvolvimento de suas potencialidades espirituais. Antes da transcendência artificial na conquista do espaço cósmico, cabe-lhe atentar para a transcendência natural de suas possibilidades ônticas. Cabe-lhe ainda o dever moral de restabelecer a ordem terrena, harmonia e sua beleza primitiva. Os mundos superiores do Cosmos não
podem receber os demônios da Terra, a não ser pela ordem de graduação evolutiva dos que conseguirem elevar-se acima do nível moral negativo do nosso planeta.
Em seu livro O Jogo de Avelórios, Herman Hesse observa que as fases da decadência do mundo são recedidas de fases musicais em que a estridência supera a harmonia. Nosso mundo atual chegou ao máximo da estridência na música. E essa estridência se reflete em todas as demais atividades artísticas.
Voltamos ao primitivismo com técnicas inúteis de disfarce; resposta desses artifícios, não o desejo de progresso, mas a consciência da fragilidade humana, da impotência do homem atual para manter-se no equilíbrio dos gênios do passado, quanto mais para superá-los.
A genialidade escasseou no mundo, porque a civilização atual perdeu-se na subalternidade das aspirações inferiores. Por toda parte as atividades humanas se aviltaram na busca do pragmático. As mentes se fecham nos limites do interesse imediatista da sobrevivência corporal. Reduzido à imperfeição das funções orgânicas, o espírito só agora está voltando a ser considerado real e digno de atenção das ciências.
As últimas descobertas da Ciência revelaram, mau grado a obstinação materialista, que o espírito é o elemento estruturador da matéria, confirmando o princípio espírita da dispersão da matéria no espaço e sua aglutinação pelo poder estruturador do espírito. A teoria de força e matéria do século XVIII é agora substituída pelo princípio cientificamente provado de espírito e matéria. Nas ciências biológicas as experiências com embriões de animais provaram que os centros padronizadores do organismo dominam a estruturação dos corpos. No tocante ao
homem, as pesquisas russas da universidade de Kirov revelaram que a formação do corpo humano e seu funcionamento são determinados pelo corpo bioplásmico, constituído de plasma físico, correspondente ao corpo espiritual da tradição cristã, que no Espiritismo aparece com a denominação kardeciana de perispírito. O materialismo oficial e ideológico do Estado Soviético reagiu contra essa descoberta, mas as provas em contrário não foram feitas. Esses avanços da Ciência, mau grado a teimosia materialista e religiosa, reparam no campo científico atual os erros e distorções intencionais do passado, geralmente feitas em defesa de posições dogmáticas interesseiras.
Há uma enxurrada de crimes materiais, intencionais, morais e de toda espécie submetidos a revisões penosas da atualidade.
Mas a disposição de regresso à posição certa poderá atenuar a violência das reações cármicas já Desencadeadas em nosso tempo. Para essa atenuação muito poderão contribuir os homens de boa-vontade, em todas as circunstâncias em que se encontrarem. Volta assim à responsabilidade do livre-arbítrio humano a correção e a superação de seus desmandos no passado.
É natural o anseio atual do homem, de fuga para outros mundos. Ao se projetar na existência, o ser traz consigo, fixada em sua sensibilidade ôntica, o esquema de sua destinação cósmica. No homem, segundo a teoria genial de Frederic Myers, esse esquema secreto permanece em sua mente subliminar, influindo sutilmente em sua mundividência. Depende da maior ou menor permeabilidade do limiar sobre o qual se assenta, por assim dizer, a consciência supraliminar, a percepção mais ativa ou mais imprecisa do futuro existencial do homem. Kardec
esboçou, em O Livro dos Espíritos, a sua famosa Escala Espírita, com a caracterização admiravelmente precisa dos quadros superpostos dos graus de evolução espiritual do homem. Essa escala marca o roteiro cósmico do homem na direção dos mundos superiores do Infinito. A Terra figura nesse esquema como base de lançamento espacial dos grupos humanos devidamente preparados para a transferência a mundos mais elevados. A condição para integrar esses grupos é apenas uma: haver superado o nível moral do planeta. Uma vez superado esse nível, o homem está apto a viver num mundo de regeneração, de onde partirá, completado o seu estágio regenerador, para mundos superiores, sempre na medida exata de suas possibilidades.
Dessa maneira, todos nós sentimos o anseio da fuga sideral, em menor ou maior grau.
Desejamos todos viver num mundo diferente do nosso, que, segundo Kardec, é o Purgatório que os teólogos e os videntes nunca souberam onde colocar. É aqui, na Terra dos Homens, segundo a expressão acertada de Saint Exupéry, que temos de aprender a lutar contra a nossa fragilidade carnal, conquistando a invulnerabilidade do espírito. Na proporção em que o homem progride na sua evolução, mais vivas se tornam em sua memória
subliminar e mais fortes de projetam em sua mente supraliminar as esperanças da escalada cósmica. Não há técnicas específicas para essa preparação do homem, pois a evolução de cada existente, ou seja, de cada criatura humana na Terra, se faz unicamente através das experiências vivenciais. As regras morais, as religiosas, as mentais não passam de arranjos criados por criaturas imaginosas e sistemáticas, que nem a si mesmas
conseguem melhorar. O único manual possível de evolução espiritual é o Evangelho de Jesus compreendido em espírito e verdade, sem as interpretações dogmáticas do sectarismo religioso. Só a vida guarda o segredo da preparação específica de cada existente para o colocar em condições de partir para os mundos do espaço sideral.
O Espiritismo nos mostra e prova, desde as pesquisas de Kardec até as atuais, que antes de nos libertarmos do planeta temos de passar pelos estágios progressivos da própria esfera espiritual da Terra. Não devemos, pois, olhar com muito anseio e pretensão para as estrelas distantes, esquecidos de nossas contas finais com a própria Terra. Para pisar no primeiro degrau dos mundos superiores, precisamos antes provar as escadinhas internas da nossa morada atual. Não há milagres na evolução, há leis.
Algumas instituições espíritas inventaram ou adotaram sistemas de santificação, à maneira dos usados no Catolicismo e no Protestantismo. Ao invés de ensinarem doutrina espírita, passaram a dar cursos de boas maneiras, de impostação de voz e assim por diante; cometem um grande erro, pois na verdade as pessoas se revestem de hipocrisia, logrando-se a si mesmas.
Perdem a naturalidade, a espontaneidade e com esta a virtude preciosa da sinceridade. Jogam fora o que têm de melhor, que é a capacidade de não mentir e não fingir. Às vezes, em mensagens mediúnicas de espíritos ainda apegados ao ranço clerical das sacristias, aparecem recomendações desse teor. É natural que uma criatura queira dominar e controlar o seu comportamento na medida das exigências da sociabilidade. Mas daí a entregar-se à deformação de si mesma para aparentar angelitude vai grande distância.
A evolução humana não se faz por meio desses artifícios ridículos. Não vem de fora, mas de dentro, das profundezas do ser. A experiência vital é o corretivo natural dos espíritos indisciplinados. Na Terra podemos fingir e mentir à vontade, mas ao deixá-la nos defrontaremos com a realidade nua e crua do que somos. O que nos interessa, portanto, não é aprender regras padronizadas de comportamento fingido, mas refinar-nos na medida do possível, cultivando o respeito aos outros, o amor aos semelhantes, a humildade que nasce da compreensão de nossas imperfeições. O fingimento é logo percebido por todos os que não se utilizam dele.
O Espiritismo nos ensina que temos em nós mesmos, em nossa natureza específica, os recursos de que a vida se serve para nos tornar mais aptos a viver com dignidade e nobreza espiritual legítima. Não podemos instalar em nossas instituições esses modelos falidos que modelaram os carrascos das inquisições, cobrindo a astúcia de serpentes venenosas. Ninguém pode atingir o céu com as asas de cera de Ícaro, e muito menos com asas de
papel de seda dos anjos de procissões. Temos de enfrentá-la como ela é, com a nossa própria realidade, para podermos amadurecer ao sol da verdade, longe das sombras da mentira.

fonte: file:///C:/Users/Usuario/Pictures/Herculano_Pires_tit_Evolucao_Espiritual_do_Homem.pdf


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